domingo, abril 17, 2005

No corpo de um lobo...

Uma qualquer manha humida de Outono, um frio que nao sentia, uma neblina cerrada. Via melhor pelos meus apurados ouvidos e nariz do que propriamente pelos olhos. À minha volta, um tumulto de cores invisiveis moviam-se furtivamente, alheios á minha presença oculta. Cada passo que dava soava a trovão, e a lama que levantava do humido chao para lá voltava com o alarido de uma cascata.
Embora nao a visse, sentia a presença da minha parceira um pouco á frente, também ela envolta em nevoeiro, humidade e sombra. Uma multidão de gordas gotas de orvalho se estampavam com estrondo no chão, sapos grunhiam e passaros assobiavam melodias que apenas eles entendem. Senti a minha parceira a acomodar-se no hall de entrada. Senti os seus olhos cravados em mim muito embora nao a pudesse ver. Com um silencioso salto perfeito passei por cima do regato oculto pelo nevoeiro, que sabia estar á minha frente. Fiquei á escuta. Nada... apenas o ja habitual alarido. Ninguem me havia notado, excepto a minha parceira.
Sentia seus olhos chamando por mim um pouco mais á frente através da barreira de nevoeiro que nos separava. Silenciosamente fui-me aproximando. Mais um fim de tarde em que regressava ao ambiente que conhecia melhor que a própria vida. Ao ritmo ambiente, fui-me aproximando e entrei sem olhar para ela. Ainda assim, visualizava-a perfeitamente, com os seu longo e delgado corpo coberto de humidade e frustação. Entrei e aninhei-me a um canto.
De olhos fechados assisti á sua entrada e á sua aproximação. Sentia-a analizando-me, sentia o seu arfar, sentia o seu coração batendo descompassadamente, sentia todos os seus musculos se contorcendo num esforço por me conquistar.
Sempre adorara aquele impasse, aquela luta silenciosa que se desemrola em nossas mentes em instantes como aquele. Nao, nao é telepatia!, mas comunicação através de sinais tao minimos que ninguem mais os conseguiria sequer notar quanto mais compreender a sua intricada rede de significados. Através do respirar, da tensao de musculos e do bater de nossos corações passámos escassos segundos que se prelongaram pela noite dentro.
Finalmente afastou-se para um espaço livre, exalando tanta dor que seria perceptivel na maioria do nosso territorio. Nao, ela nao me compreendia. No entanto amava-me e compreendia-me portanto. Parece uma comtradição? ohhh como esperais compreender o complicado mecanismo das relações felinas? QUEM VOS JULGAIS???
Permaneci imovel, sonhando um monologo acordado. Algo se debatia dentro de mim, algo que ansiava se libertar saindo a correr até bem ao meio do bosque e da mais alta arvore gritar: "MEU AMOR MORREU!".
No entanto permaneci imovel, pois apenas esse pensamento era contra a minha furtiva natureza. Noite após noite vivia uma vida passada, agora longe pois distante.
Se a saudade matasse, entao á muito me teria juntado à minha amada. Assim, uma apatia muda me controlava dia após dia. O que eu daria por uma regressão no tempo...
Algo me despertou! Outro suspiro silencioso... mensagem clara de uma nova tentativa de aproximação. Desta vez permiti que se me juntasse. Enroscados um no outro, nosso pensamento seria unissuno, portanto apaguei qualquer vestigio de tempos idos que pela minha mente ainda vagueava. Senti-me mal por ter de o fazer, por ter de o esconder dela, e esse sentimento ela notou mas fingiu não o fazer.
Juntos sonhamos um novo dia, em que ambos seriamos felizes. Sonhámos um ceu limpo e brilhante, uma brisa refrescante, um sol cintilante, uma uniao de facto, um amor eterno. Mas nada disso poderia algum dia ser possivel...
Carregava em mim feridas tao profundas que de mim ja pouco restava.
A minha incapacidade era já lendária e circulava agora silenciosamente entre os nossos. Por todo o bosque circulavam rumores silenciosos, uns de compreensão, outros de troça. Mas nada disso me preocupava. Aliás, nada mesmo me preocupava! Passava os meus dias deambulando silenciosamente, fazendo o que nascera para fazer. Aquela era a minha sina, a minha doença, a minha maldição.
Aprisionado para sempre, cada dia era um tormento.
Porquê mundo cruel? PORQUÊ???

sábado, abril 16, 2005

Sonho acordado...

Bem alto no cimo de um penhasco estou eu perto do mar.
Sinto a brisa fresca salpicar-me o rosto,
Sinto a vibração na rocha provocada pelas fortes ondas,
Sinto o doce sabor a sal que paira no ar,
Sinto o sol queimando através da densa neblina,
Mas sobretudo,
Sinto a tua falta!!!
Sinto a falta do teu sorriso,
Sinto a falta da tua melancolia,
Sinto a falta da tua alegria,
Sinto a falta do teu sobrolho erquido,
Sinto a falta do teu abraço,
Sinto a falta daquele sentimento que em mim provocas!
Um misto de ousadia combinado com coragem,
Um misto de alegria combinado com preocupação,
Um misto de incerteza combinado com aspiração.

Tantas vezes penso, no que a vida até entao me ofereceu...
...
...sem duvida que a maior oportunidade...
...
...foi o ter-te conhecido!

Será que devo ousar?
Será que devo arriscar?
Será que devo acreditar?
Será que devo contentar?

Que farei eu do doce Dom em mim investido... Eis quem eu sou!!!